terça-feira, 26 de maio de 2009

Finalmente a crônica

No tempo da alta definição das TVs de plasma, LCD e tantas mais que inventarem a nossa personagem parece ser uma vovó de meia idade, perto da aposentadoria e ainda por cima com mal de Alzheimer. Todos sabemos que a hora de pendurar as chuteiras parece ser uma das mais difíceis. Afinal, deixar de exercer sua principal função dá um trabalho imenso. Há quem decida com antecedência, outros vão pensando ao longo dos anos e ainda existem aqueles cuja pausa é forçada por motivos que vão além de suas forças. Esse é o caso dela, na boa linguagem do futebol diríamos que está de molho, ou no chinelinho e por enquanto não dá pra saber se um dia terá condições de voltar a atuar. É como se estivesse repousando para um pré-operatório, desses que o Ronaldo Fenômeno tem experiência de sobra em vivenciar. O que sem dúvida deve ser uma amargura para quem é acostumado à badalação de craque do time e sempre se vê como titular absoluto. Aqui ela chegou como reforço importante, investimento alto, pronto para ser a estrela do time, artilharia pesada, pois naquela época, pelo menos para nós contar com uma estrela desse naipe era coisa de outro mundo. É certo: existiam outras estrelas maiores, mas um reforço como esse era um peso e tanto. Era um tempo em que computador parecia ser coisa de outro mundo do tipo que dava até medo de chegar perto, DVD era algo que nunca tinha ouvido falar e a grande inovação era sem dúvida o vídeo cassete.
Sem dúvida essa velha companheira foi peça importantíssima para me aproximar do Peixe. Era uma espécie de camarote em que podia sentar e torcer como se estivesse na Vila. E torcia mesmo, com vontade, com entusiasmo... e ai dos vizinhos quando o jogo era à noite. Sim, a televisão é peça chave na relação do torcedor com o seu time do coração. Temos que lembrar que num país como o nosso, muita gente por medo ou até mesmo por falta de condições não vai aos estádios prestigiar o futebol.
Lembro-me bem de 2002, o último ano do Campeonato Brasileiro que teve mata-mata, antes da versão atual dos famosos e controversos pontos corridos. Foi ano também de Copa do Mundo, o que serviu para estreitar minha relação com o futebol. Assisti a todos os jogos do mundial. Todos os que passaram na TV, não só os do Brasil. Foi aí que voltei a gostar de futebol e a acompanhar, coisa que não fazia há muitos anos. Graças ao mata-mata o Santos avançou de fase e depois de passar por São Paulo (que teria sido o virtual campeão) e pelo Grêmio , chegou na final contra o Corinthians , de Carlos Alberto Parreira que tinha um baita time. Foi em dezembro de 2002, se não me engano dia 8 ou 15, lembro bem que assisti Robinho pedalar uma, duas, três.. várias vezes na frente do zagueiro naquela final contra o Corinthians. Sim, não teve outra , foi pênalti e eu ali, bem atento, vibrando feito moleque. O Santos foi campeão... gritei feito um louco.
Ganhamos o direito de disputar a Libertadores da América. Acho que ninguém levava muita fé no Peixe... sei que o time foi avançado até pegar o temido Boca Júniors na mais temida ainda La Bombonera. Primeiro jogo o peixe perdeu, e eu só fiquei rouco. Morava em apartamento e os vizinhos que não estavam assistindo o jogo devem ter entendido tudo, lance a lance porque eu gritava mais que o Galvão Bueno. Ali já começava a me interessar pelo jornalismo esportivo. O grande acontecimento foi o segundo jogo, no Morumbi. O peixe fez o primeiro gol e eu comecei a vibrar, descendo socos no sofá... e aumentando o volume de nossa velha amiga TV. Infelizmente o peixe se desestabilizou e acabou perdendo, mas é da vida... o Boca era praticamente imbatível e convenhamos é o time mais temido e enjoado de toda a América do Sul. Se no primeiro só fiquei rouco no segundo tive febre e fui parar no PA de Itacibá. Que louco! Nunca tinha torcido com tanto entusiasmo. Tudo isso, lógico em frente à robusta TV Philips de 20 polegadas. O tempo foi passando e eu sempre acompanhando o futebol. Teve também 2004... quase fomos vice mas heroicamente brigamos pau a pau com o Atlético-PR e eu acompanhei o último jogo, se me lembro bem contra o Vasco e também algo que deixou os santistas preocupados , como o seqüestro da mãe de Robinho. Depois fiquei acompanhando o futebol esporadicamente, já que pra Globo passar jogo do Santos, pra cá só em raras circunstâncias como aquelas de 2003. Quando ligo pra ver os jogos o interesse maior é na tal bolinha. Isso sem contar que quase sempre minha TV fica na Band.
Final do mês passado teve Santos e Corinthians , mas não acompanhei o jogo na TV de sempre. Desde o final do ano passado ela começou a dar os seus tremeliques ... só dá pra ouvir o som sem imagem , aí descobri o grande macete: se der porrada ela funciona. Adotei essa metodologia por um tempo dando-lhe chutes e porradas e até virando ela de cabeça pra baixo. Mas tudo isso tem um efeito colateral: as minhas mãos doem... fora o barulho que é ficar sentando a mão. É fato, que ninguém poderia contar tanto a minha história de torcedor quanto a velha TV de 20 polegadas que está aí há mais de 13 anos, apenas um a mais do que torço pelo Santos. Hoje ela está lá relegada a um cantinho do meu quarto, o que parece pouco para quem um dia já foi rainha da sala. Não sei se um dia a consertarei ou resolverei substituí-la... aliás ultimamente quem entra em campo é a de 14... mas que a velha TV tem história... isso tem! Sou do tempo em que as coisas eram feitas pra durar... desde as TVs até os casamentos!Às vezes me acho meio velho, como a TV e chato, como você leitor deve estar achando esse texto se teve a paciência de chegar até aqui. Se pelo menos chegou até aqui... muitíssimo obrigado... e olha que era pra ele ser maior!

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